Não basta ser criativo, tem que inventar algo do nada

O que deve prevalecer é a busca contínua por algo que ninguém de dentro do cliente tenha visto ainda

Por Amalia Sina, do Mundo do Marketing | 17/05/2011

O ser humano é imprevisível e age durante todo o tempo buscando seus próprios interesses. Assim Baltasar Gracián se posiciona em seu livro A Arte da Prudência, que pode ser considerado um manual de estratégia para bem viver. Se precaver diante da vida é a base para obter equilíbrio, e é o que para Gracián parece ser a base de tudo. Se fizermos uma analogia com a situação no mercado, onde as empresas competem por espaços cada vez mais escassos, podemos dizer que para vencer é necessário ser precavido, antever e buscar solução antes do problema existir. Todos os dias vemos novos produtos entrando e outros morrendo, às vezes, em poucas horas.

Outro dia fui a um ótimo evento (“Semana da Criação”), buscar novas ideias, que pretendia extrair das palestras, para antever o que o mercado poderia estar preparando no segmento em que minha empresa atua. Tive sorte, pois assisti a duas delas que afirmavam que há uma grande diferença entre ser criativo e ser criador. Enquanto o primeiro pode fazer ações que sejam novas e diferenciadas, o segundo é aquele que cria a partir do nada.

Ou seja, é a real invenção, o inusitado, o raro e nobre. Algo realmente notável. Concordo que não é fácil e o palestrante, um estrangeiro, dizia que criar envolve alegria, que é mais forte do que a felicidade, pois é ligada ao momento que se vive. Enfim, foi realmente uma lição de como hoje em dia a área de criação está preocupada em desenvolver ideias e não em inovar a partir do nada. As agências recebem os briefings (que para mim devem ser o início, e não o fim do projeto solicitado) e querem que o briefing diga o que deve ser feito ou criado. Em geral, o cliente não sabe bem o que quer, então, o melhor é considerar o briefing como uma dica apenas, nada mais do que informação ou dados.

O que deve prevalecer é a busca contínua da criação a partir do nada, algo que ninguém de dentro do cliente tenha visto ainda. Aí sim, podemos dizer que algo realmente foi “criado” por um criador criativo, e garantir que Baltazar Gracián estava certo quando dizia que a melhor solução para viver bem é ser precavido. Procure ter uma agência que entenda que para vencer os desafios de hoje, tem que saber o que irá acontecer amanhã. Puxa, não parece tarefa fácil. Ué, mas quem falou que era para ser?

*Amalia Sina é reconhecida como uma das mais bem sucedidas executivas brasileiras de sua geração. Foi presidente da Philip Morris do Brasil, da Walita do Brasil e vice-presidente da Philips para a América Latina. Com MBA em Marketing pela FEA/USP e Pós-graduada em Gestão pelo Triton College, Chicago, hoje comanda a sua própria empresa, a Sina Cosméticos. É autora dos livros “Mulher e Trabalho” e “Marketing Global – Soluções Estratégicas para o Mercado Brasileiro”.

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